Fatalmente, algum botafoguense vai pensar na máxima “há coisas que só acontecem ao Botafogo” para justificar toda a dramaticidade da classificação à próxima fase da Copa do Brasil – ela veio com uma vitória no desempate por pênaltis, depois de o alvinegro ter sofrido uma derrota por 1 a 0 no jogo de ida e ter vencido por 1 a 0 o jogo de volta. Mas logo a frase de Stanislaw Ponte Preta é substituída por uma exclamação mais condizente com sua atual equipe: “são coisas que não deveriam acontecer ao Botafogo!”.
Não deveria acontecer ao Botafogo que este ritual de sofrimento tenha acontecido diante do modesto River Plate de Sergipe. Não deveria acontecer ao Botafogo fazer sua vitória por 1 a 0 vir somente graças a um gol contra – gerado pela falha do goleiro Max que, ao sair em cruzamento na falta cobrada por Renato Cajá, socou a bola contra o corpo de seu companheiro, o zagueiro Bebeto e, segundo o bandeirinha, cruzou a linha de meta antes do defensor sergipano rechaçá-la. Não deveria acontecer ao Botafogo arriscar sua vaga à sorte de dois jogadores rivais chutarem por cima do travessão suas cobranças de pênaltis (fazendo a série terminar em 4 a 1 para o alvinegro).
Não deveria acontecer ao Botafogo ver um grupo de jogadores incapaz de achar boa troca de passes para furar o bloqueio do limitado grupo do River Plate. Não deveria acontecer ao Botafogo que algumas jogadas promissoras criadas na esquerda com Everton e Caio fossem atrapalhadas por um lateral-esquerda omisso na partida. Não deveria acontecer ao Botafogo que o time insistisse em cruzamentos para a área justamente quando Loco Abreu, seu exímio cabeceador, estava de fora. Não deveria acontecer ao Botafogo que Herrera ficasse tão displicente diante das oportunidades de gol que apareceram. Não deveria acontecer ao Botafogo que Joel Santana demorasse a tirar o inoperante Márcio Azevedo, mas sacasse Renato Cajá e Everton para colocar os atacantes Alex e Fabrício – “inventando” Caio como criador de jogadas quando o time de General Severiano lutava contra o relógio. Não deveria acontecer ao Botafogo que a equipe só conseguisse chegar de fato com perigo na reta final da partida – e seu poder de fogo fosse suficiente apenas para consagrar o goleiro Max, e por alguns minutos transferir para o camisa 1 do clube sergipano a responsabilidade do jogo ter ido para os pênaltis (o feito do River Plate certamente será muito comemorado por sua torcida, pois logo na estreia da equipe na Copa do Brasil, ela já complicou um tradicional clube do país).
Só que o Botafogo precisa encontrar dentro do próprio clube as razões pelas quais as vitórias estão vindo com tanta dificuldade. O elenco é tão fraco a ponto de continuar preso mesmo quando Joel Santana escala uma equipe mais ofensiva? Ainda dá para acreditar em Papai Joel? Em meio a estas e outras dúvidas, os botafoguenses devem ter pelo menos uma certeza: precisar dos pênaltis para eliminar o River Plate de Sergipe tem uma dimensão tão grande a ponto de entrar na cômoda superstição do “há coisas que só acontecem ao Botafogo”.
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